segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Minhas sombras azuis.


Em um dia frio e chuvoso, eu estava como sempre, deitada debaixo do meu coberto azul e branco, estava com uma garrafa de bebida que tinha acabado a pouco tempo ao lado. Estava com um monte de revistas espalhadas no chão, foi quando avistei uma agenda, vi que tinha arrancado uma página dela e que tinha também riscado um nome que não me lembrava qual era, a bebida tinha me feito esquecer a memória, parecia. Do meu lado um maço de cigarros que tinha acabado a pouco tempo, cheio de bitucas de cigarros pelo quarto, via quem quisesse ver, quem quisesse andar pelo meu quarto teria que arrastar bitucas de cigarros que poderiam sujar os sapatos, teriam que arrastar garrafas de bebidas velhas, teriam que arrastar jornais rasgados, teriam que arrastar revistas jogadas pela casa e teria que arrastar a agenda com a folha riscada que eu não me lembrava o nome que eu tinha riscado. Tomei coragem e levantei da cama, andei um pouco e dei de cara um um enorme espelho no banheiro, ele estava limpo, era a única coisa na casa limpa, pensei. Com as pontas dos dedos eu toquei o meu reflexo do meu rosto refletido naquele espelho, não gostei do que vira, não sabia te dizer quando o meu cabelo tinha visto pela ultima vez um pente, não sabia quando tinha sido a ultima vez em que ousei passar um pó na cara, nem sequer uma sombra, uma daquelas azuis de balada que você chega e já toma atenção de quem quiser ver, não sabia nem quando tinha sido a ultima vez em que passara um perfume sem ser barato, desses de camelo de feirinha de domingo. Andei mais um pouco e vi jogado pela casa, sapatos, vários sapatos, altos, baixos, bonitos, feios, eles que eu nem sabia quando tinha sido a ultima vez em que eu ousara usar, eles que eu nem me lembrava que existia, pensei comigo mesma que, deveria ter ficado naquele quarto trancada um bom tempo, com as bebidas, revistas, cigarros e com a agenda com a folha rasgada que eu não conseguia me lembrar quem era a pessoa que eu riscara o nome. Deveria fazer um bom tempo em que estava ali, sozinha, feia, nojenta, parada, chata e feia feia feia. Não sabia nem como tinha sobrevido naquele chiqueiro, naquele chiqueiro que eu ouso chamar de quarto. Voltei para lá, para ver o que havia dentro daquele guarda roupa branco, ao olhar lá dentro vi que eu tinha belíssimas roupas que eu não sabia quando tinha sido a ultima vez que usei, peguei as melhores que tinha lá dentro, peguei a melhor lingerie, a mais sedutora, a mais vagabunda, a que não era eu por um bom tempo, porque estava trancada naquele quarto. Tomei um banho, coloquei o meu lindo vestido prata apertado contra o corpo, ele que deixava a minha bunda maior do que realmente era, que ressaltava os meus seios deixando eles maiores do que realmente eram também. Peguei as minhas maquiagens e passei o azul, aquele azul que quando você chega nos lugares as pessoas vê que você realmente chegou, e em instantes, vi que eu era uma outra pessoa, nem parecia que eu tinha ficado durante tempos naquele quarto com aquelas revistas, garrafas de bebidas, cigarros e com a agenda com a folha no chão que eu não sabia quem era a pessoa do nome riscado. Coloquei o meu melhor sapato, peguei a minha melhor bolsa e, nela eu coloquei os meus melhores cigarros, coloquei um batom para poder retocar a maquiagem para onde eu ousasse ir estivesse linda como saira de casa, coloquei dinheiro para um taxi e uma boa bebida, me olhei no espelho antes de sair e vi que estava diferente do que eu costumava ser antes das bebidas e durante as bebidas, eu estava parecendo uma puta, daquelas de bordeis nojentos e sujos, daquelas de bordeis baratos, bordeis de esquinas, mas eu gostei do que vi, até sorri ao olhar no espelho, tirei o pouquinho de batom que restava no dente e fui. Ao sair eu vi que chovia muito, peguei um guarda chuva para ir até o taxi, no caminho até lá, um cara dentro de um carro velho parou do meu lado, ele deveria achar que eu era uma puta, daquelas de bordeis velhos e sujos, mas eu não o culpava por pensar aquilo, eu parecia mesmo uma daquelas putas. Entrei no carro, queria ver o que aquela mulher que estava trancada dentro do quarto com a única companhia que era a bebida, o cigarro, a agenda com a folha riscada no chão, poderia fazer. No meio do caminho não falamos nada, acendi um cigarro e puxei um assunto:

- Você me convida para entrar no seu carro e nem ousa dizer o seu nome?

Ele riu, vi que tinha um bonito sorriso largo.

- Me chamo Marcos e você?

- Me chamo Teresa.

Vi que quando acabei de dizer o meu nome, chegamos a um daqueles bordéis sujos, nojentos e sujos e nojentos e sujos. Vi que eu realmente estava parecendo uma daqueles mulheres que tinha pensado ao me olhar no espelho. Ele pegou um quarto, parecia até que conhecia muito bem aquele lugar, deveria já ter ido lá com outras mulheres que pareciam também mulheres de bordéis sujos. Entrando no quarto ele me jogou em cima da cama agressivamente, me mandando tirar a roupa. Ele tirou as suas roupas com rapidez e até me ajudou a tirar os sapatos, porque estava demorando, tinha perdido o habito de colocar aquela fivela e de tirar também, estava em momento de adaptação ao sapato. Ele jogou as minhas roupas no chão e deitou sobre mim, quando deitara naquela cama conseguia sentir o cheiro do gozo da ultima transa, deveria ter vários gozos misturados, várias pessoas que conseguiram pensar em um orgasmo naquele lugar nojento e sujo. Ele veio por trás, e continuava me penetrando, continuava , continuava e continuava. Conseguia sentir o seu suor sujo, seu suor de porco velho e nojento em cima de mim, conseguia sentir os seus pelos grossos em cima da minha pele, e ele continuava me penetrando e me chamando de vadia, putinha, vagabunda, cachorra, e continuava. Quando ele terminou de se satisfazer, colocou as roupas e jogou o dinheiro sobre a cama, foi quando o vi indo embora por aquela porta, me vesti e peguntei a dona do lugar onde havia o primeiro ponto de táxi perto. Quando estava indo, vi uma rosa vermelha no caminho, disse que a rosa era eu, pois era vermelha, cor da paixão, cor do desejo e ilusão, ela era eu, eu era ela. Entrei no taxi e decidi que começaria a usar mais sombras azuis e que fumaria mais quando esses dias se repetisse, decidi que ia descobrir quem era a pessoa que eu riscara o nome na folha da agenda, jogada no chão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário