quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Papel amassado não volta a ser igual.


Eu fui procurar maçãs no meio do caminho, mas a verdade é que só encontrei limoeiros nessas avenidas. Difícil de acreditar que eu achei limoeiros nessas avenidas, mas é a verdade. Vi até limoeiros em casa de pessoas, elas deviam ser bem amargas, pensei. Eu nesses tempos venho tentando segurar a respiração, para não sentir, porque eu só sinto tudo isso quando respiro. Se me ver segurando o nariz para não respirar, não fique pasmo, é a minha forma de aliviar a dor.
A verdade é que quando o amor acaba ele se reduz a três palavras, se reduz ao eu te amo automático, ou não se reduz a nada. O eu te amo automático é a pior parte delas.
O amor pode ser comparado a diversas coisas existentes no mundo, céu, estrela, beijo, carinho, tudo. Mas ele é comparado de acordo com a situação em que se vive. De acordo com o que seu coração pede. O meu é comparado bem assim:
"Amor é que nem papel, quanto mais amassa mais amassado fica. E depois de amassado, não volta a ser igual. E escrever em cima de um papel velho e amassado, é muito difícil. As vezes, quase impossível."
E isso realmente é verdade, fica difícil escrever entre os amassados do papel. Por isso que não se pode amassa-lo, deve cuidar dele se você quiser mantê-lo vivo por muito tempo. E qualquer cuidado é muito pequeno comparado a um frágil papel, porque qualquer movimento brusco causa um amasso e jamais voltará a ser igual.
Eu te observei por muito tempo, essa é a verdade. Eu quis por muito tempo, isso também é uma verdade. E hoje eu permaneço em qualquer lugar daí, seja no seu coração, na sua mente, na sua boca, nos seus olhos que guardaram com toda certeza o meu sorriso. Permaneço nas suas mãos, nos seus pés, na sua barriga, nas suas orelhas que por muitas vezes ouviu os meus desaforos. E você talvez permaneça em mim nesses lugares. Mas é que eu já pressentia que depois que um papel amassa, ele nunca voltará a ser igual. Você nunca soube disso, nunca soube que papéis amassados permanece amassado, sempre pensou que com suas mãos poderia fazer com que tudo desse certo e que voltasse a ser como era antes. Mas não tem como, te digo isso meu amigo. E eu respiro e sinto e dói e continua doendo. Mas eu não derrubei nenhuma lágrima até aqui, nenhuma lágrima depois que o abraço foi desatado, não chorei e nem hesitei levantar a bunda da cadeira. Continuo sendo a mesma. Não é porque não permito que me arranquem de mim mesma que deixarei de ser eu. Eu sempre serei eu e você sempre será você, sempre será a pessoa que achará que o papel pode voltar a ser limpo, liso, bonito, gentil. Mas você nunca soube que eu, consegui guardar tantas maldades e tantos olhares mal olhados, como você também aguentou. Mas eu nunca resisti por muito tempo. Comecei a respirar de novo, voltou a doer, vou lá tentar meditar para conseguir segurar mais tempo a respiração, deixo pra ti todo o sol bonito da manhã, deixo pra ti o meu melhor sorriso e o meu papel mais limpo.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Minha cidade cinza.


Ninguém nunca soube o que tinha atrás daquela franja que cobria praticamente toda a cara dela. Ninguém nunca soube o que tinha dentro daquele pequeno apartamento onde vivia - se é que poderia ser chamado de apartamento. Ela vivia sozinha. E apesar da pouca idade, aparentava ter muito mais. Aparentava ser duas vezes mais velha do que realmente era. Mas eu sempre a observei com um ar de curioso, sempre fui curioso perante a ela, sempre a observei chegar do mercado com as compras na mão, sempre a observei chegar do trabalho com uma cara um tanto triste. Deveria trabalhar em algo que não gosta, pensava eu. Ela sempre foi esse tipo de pessoa que todo mundo acha que não passa de uma estranha, quieta e anti-social. Mas eu nunca achei isso dela, ela tinha um brilho no olhos tão diferentes e parecia ser bem sozinha. Apesar de que naquele apartamento se coubesse dois, era muito. Confesso que já cheguei a seguir ela, fui atrás dela pelo bosque da cidade, porque as vezes ela sentava em frente ao lago e lia coisas tão desinteressantes quanto ela. Mas pra mim, tudo que se dizia a respeito dela era interessante, tanto que a segui. Eu sei que eu posso parecer um louco falando assim de uma pessoa que eu mal conheço. Eu sei que eu não sou grande coisa com esse meu terno marrom de segunda mão, quem visse saberia que eu comprei no brecho do centro da cidade. Mas é que ela, ela era diferente de mim. Diferente de tudo que eu já vira, ela tinha um ar de superior a toda solidão existente no mundo. Parecia nem ligar para quem entrava ou saia da sua vida. Como eu sempre pintei a vida. Desejei naquele momento pintar ela, ela realmente era a vida, uma vida sem muita cor, mas uma vida. Pintei ela em uma pequena tela, pintei sua franja que cobria metade da cara, pintei aqueles panos que a encobria como roupa, pintei os seus olhos castanhos claros profundos e cheio de luzes. E a pintei dentro daquele apartamento, dava pra ver um pedaço dele da minha casa, desenhei o que vi. Pintei as panelas empenduradas por um prego na parede, pintei a sua pia que as gavetas haviam sido arrancadas, ou deveriam ter caído de tão velhas, pintei as colheres que ficava dentro de um pote verde e pintei suas roupas que ficava estendida na área. Se bem que, não havia muitas roupas para serem estendidas. Eu realmente nunca consegui entender quando a vi jogando as colheres de dentro do pote verde no chão, ela havia tirado pela primeira vez a franja do meio da cara, mostrando um enorme corte do lado do rosto, perto dos olhos. E naquele instante eu realmente percebi o porque ela tinha aquela franja que cobria metade do seu rosto e que cobria os seus lindos olhos castanhos. E depois de toda aquela fúria dela a vi saindo do seu apartamento com suas poucas malas, não sabia o porque que ela ia e nem para onde ia. Foi então que vi pela ultima vez a sua sombra virar a esquina. Naquele momento eu sabia que ela jamais voltaria, sabia que nunca mais veria sua franja e nem as suas roupas velhas. Eu não sabia o porque mas eu havia ficado triste, e naquela noite eu não consegui dormir, as lágrimas tomavam conta do meu rosto, descendo do meu rosto e molhando o meu terno velho. Por algum motivo mais forte que eu, não conseguia parar. Foi quando vi o dia nascer vindo com o por-do-sol mostrando claramente aquela cidade cinza. E pensei, eu e ela nunca nos conhecemos, tão distantes e tão diferentes, chorei pela primeira vez, e por quem eu nunca conheci.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Perfeitamente imperfeito.


Olho com os olhos meios distantes para o quadro com os nossos rostos pintados, tentando encontrar o que faz os meus olhos realmente encontrarem os seus, porque nesse tempo de solidão, nesse tempo de guerra eu venho sendo muito a minha amiga. Eu até escrevi uma carta para mim mesma dizendo o quanto estou feliz por me ter, e essa foi uma das coisas mais lindas que eu já fizera por mim, essa coisa como, amar-a-você-mesmo. Essa coisa como se tocar.
Mas eu nunca confessei que eu sinto falta do seu coberto azul, nunca te disse o quanto sinto a falta da sua cor preferia. Porque desde que não te vejo nos trem da vida, desde que não te vejo caminhar por ai como quem perdeu dinheiro na calçada, tão perdido, desde que não te vejo sorrir, eu nunca mais vi a cor vermelha. Eu poderia dar a cada parte do seu corpo uma cor diferente do arco-iris. Eu daria aos seus olhos a cor verde, verde como um lago limpo, puro, lindo, algo que dê ver dá vontade de mergulhar e se afundar. E é isso que eu sinto. Eu daria ao seu sorriso a cor vermelha, porque os seus lábios são vermelhos. Eu daria as suas mãos a cor azul, sabe, eu sempre gostei de azul e sempre gostei das suas mãos, então pra mim, eles são perfeitamente perfeitos um para o outro. Sei que teve um tempo em que eu andei muito perdida por esses trem da vida, sei que eu andava perdida pela chuva, pelos becos dessas ruas, mas eu te encontrei, você me encontrou. E desses tempos em que eu andei tão perdida, eu me lembro muito bem, porque você também andou perdido, você também andou distante como eu também andei, esse tempo foi quando eu não e conhecia, foi quando eu não sabia exatamente o que era mergulhar. Foi numa manhã qualquer que eu soube que já não tinha mais como sair do que eu achava que nunca tinha entrado, foi numa dessas manhãs em que eu fumei demais até cansar os pulmões, foi numa dessas manhãs vazias que eu percebi que não poderia sair do que estava começando a acreditar. Somos perfeitamente imperfeitos um para o outro, foi a ultima coisa que eu falei, fechei os olhos e dormir. O mundo dos sonhos deve ser bem melhor que aqui, pensei.

domingo, 26 de setembro de 2010

Uma pedra parada no caminho.


Você esta ai parado esperando qualquer gesto meu, mesmo que seja um gesto duro, quase intocável, quase mal o suficiente para nos fazer parar aqui. Mas você espera como uma planta que criou raízes, espera porque acha que isso tudo dará mais frutos do que já deu, você quer detetizar e deixar essas flores limpas de pragas, mas você nunca soube e nunca saberá que elas voltam, elas voltam e de novo elas terão que ser detetizadas e tem que ter vontade, tem que ter força, tem que estar limpo por dentro para deixar as flores limpas como nunca. Eu tentei te afastar por outras vezes do meu pensamento, eu confesso que tentei pensar coisas horríveis de você para que você parasse de tomar conta do meu pensamento e principalmente do que eu sinto, eu nunca esperei coisas desse tipo de você, essa coisa como, respeito e carinho e admiração e desejo e paixão e principalmente amor. Eu sempre esperei de você coisas pequenas como o nada, nunca esperei essa coisa grande que me fez abrir todos os meus sentimentos mais lindo para você, nunca esperei isso tudo só de uma pessoa. Eu sei que você precisa ir como eu preciso ir, sei que você não pode ficar por muito tempo, sempre soube que não ficaria por muito tempo, como você sabia também, mas nunca percebemos porque todo esse sentimento tinha se transformado em amor, esse amor que me fez te abrigar dentro de mim, dentro desse corpo que não cabe nem eu mesma. Eu sei que você esta mal e que eu também estou. Mas você já parou pra pensar quem eu sou? Eu nunca disse que era perfeita, nunca disse que gostava de mudanças, sabe, até mudanças pequenas me irritam, eu não mudo nem uma colher de lugar para não ter que me acostumar com ela de novo, nunca nem quis mudar a nossa rotina ou você mesmo, sempre quis isso como sempre esteve. Mas saiba que eu acredito em você e nas suas mudanças, mas eu não sei se consigo me adaptar a elas. Penso que, se você me ama, amaria também os meus dedos dos pés, mas você sempre me disse que odiava pés, sempre me disse que tinha asco até de chegar perto. Eu amo os teus dedos dos pés, eles são perfeitos comparado a de outros homens que eu já conhecera. Eu amo também a sua risada escandalosa, mas eu não sei se você ama o meu jeito irritante. Você esta partindo, esta escapando pelas minhas próprias mãos, algo que eu sempre jurei que nunca aconteceria. Eu preciso te dizer tantas coisas antes que nunca mais eu veja o seu sorriso escandaloso e os seus dedos dos pés, preciso dizer absurdos, preciso falar sobre o quanto eu sou feliz por te ver e por ter me acompanhado durante esses tempos, porque se você não tivesse me encontrado nesses becos dessa pequena cidade, eu teria encontrado você, eu teria escutado sua risada escandalosa, teria escutado você chegar do outro lado da cidade. Eu só precisava que você me ligasse durante a tarde atrapalhando qualquer pensamento meu, só precisava me sentir a vontade com qualquer mudança ocorrida nesses tempos, só precisava que você me fizesse me sentir totalmente segura com as suas palavras de que tudo dará certo. Eu não quero me afundar em um mar de lágrimas salgadas, ouvi dizer que sal é ruim para o cabelo, e eu nunca quis estar feia ao te ver, sempre os penteei com o maior cuidado possível quando fosse te ver, não quero que minhas lágrimas o estraguem. As lágrimas também borra a maquiagem, eu sei que você sempre gostou de me ver com a cara limpa, me provou isso quando me viu acordar, quando me viu abrir os olhos, quando me viu esfrega-los logo cedo, quando viu eu me forçando a abrir por causa das remelas, quando me viu dessa forma toda desformada e ainda sim disse que ficaria até o fim ali, que era aquilo o que você precisava. Te sentia acordar no meio da noite para me ver dormir, te sentia me dando um beijo de boa noite, sentia você passando a mão nos meus cabelos, sentia o seu pensamento dizendo que eu era tudo aquilo que tanto procurou nos barcos alheios, senti que você sentia que me queria, senti a sua respiração ofegante na minha nuca, senti você me apertando contra o seu peito e desejando que aquilo nunca acabasse como eu também queria que aquilo fosse eterno. E em frente ao mar, eu te pedi que fosse meu eternamente e você disse que nós dois seriamos felizes eternamente, em frente ao mar eu disse que cada gota de agua existente ali não era nada comparado ao sentimento que você criou dentro de mim, e eu ainda acho que aquilo era verdade, e que é verdade, e acharei isso por muito tempo, até que eu perceba que nunca acharei mais ninguém tão profundo, já sabendo que não encontrarei. Sabe, você as vezes me dói, me dói demais, demais e demais. Era isso que eu vinha tentando te dizer pelas beiradas, era isso que eu vim tentando te alertar, era isso que eu vinha tentando te avisar e alertar grosseiramente. Mas eu sei também que eu te machuco. E eu sei que esta esperando ainda o meu gesto duro, sei ainda que tu criou raízes, como eu também criei. Ai meu deus, como isso veio acontecer? Era a única resposta que eu queria agora, era a única coisa que eu queria descobrir. Essa cidade e eu, ficamos tão vazios sem você. Como uma pedra parada no caminho, nós dois não nos movemos, e tão pouco sabemos quem irá movimenta-la.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Minhas sombras azuis.


Em um dia frio e chuvoso, eu estava como sempre, deitada debaixo do meu coberto azul e branco, estava com uma garrafa de bebida que tinha acabado a pouco tempo ao lado. Estava com um monte de revistas espalhadas no chão, foi quando avistei uma agenda, vi que tinha arrancado uma página dela e que tinha também riscado um nome que não me lembrava qual era, a bebida tinha me feito esquecer a memória, parecia. Do meu lado um maço de cigarros que tinha acabado a pouco tempo, cheio de bitucas de cigarros pelo quarto, via quem quisesse ver, quem quisesse andar pelo meu quarto teria que arrastar bitucas de cigarros que poderiam sujar os sapatos, teriam que arrastar garrafas de bebidas velhas, teriam que arrastar jornais rasgados, teriam que arrastar revistas jogadas pela casa e teria que arrastar a agenda com a folha riscada que eu não me lembrava o nome que eu tinha riscado. Tomei coragem e levantei da cama, andei um pouco e dei de cara um um enorme espelho no banheiro, ele estava limpo, era a única coisa na casa limpa, pensei. Com as pontas dos dedos eu toquei o meu reflexo do meu rosto refletido naquele espelho, não gostei do que vira, não sabia te dizer quando o meu cabelo tinha visto pela ultima vez um pente, não sabia quando tinha sido a ultima vez em que ousei passar um pó na cara, nem sequer uma sombra, uma daquelas azuis de balada que você chega e já toma atenção de quem quiser ver, não sabia nem quando tinha sido a ultima vez em que passara um perfume sem ser barato, desses de camelo de feirinha de domingo. Andei mais um pouco e vi jogado pela casa, sapatos, vários sapatos, altos, baixos, bonitos, feios, eles que eu nem sabia quando tinha sido a ultima vez em que eu ousara usar, eles que eu nem me lembrava que existia, pensei comigo mesma que, deveria ter ficado naquele quarto trancada um bom tempo, com as bebidas, revistas, cigarros e com a agenda com a folha rasgada que eu não conseguia me lembrar quem era a pessoa que eu riscara o nome. Deveria fazer um bom tempo em que estava ali, sozinha, feia, nojenta, parada, chata e feia feia feia. Não sabia nem como tinha sobrevido naquele chiqueiro, naquele chiqueiro que eu ouso chamar de quarto. Voltei para lá, para ver o que havia dentro daquele guarda roupa branco, ao olhar lá dentro vi que eu tinha belíssimas roupas que eu não sabia quando tinha sido a ultima vez que usei, peguei as melhores que tinha lá dentro, peguei a melhor lingerie, a mais sedutora, a mais vagabunda, a que não era eu por um bom tempo, porque estava trancada naquele quarto. Tomei um banho, coloquei o meu lindo vestido prata apertado contra o corpo, ele que deixava a minha bunda maior do que realmente era, que ressaltava os meus seios deixando eles maiores do que realmente eram também. Peguei as minhas maquiagens e passei o azul, aquele azul que quando você chega nos lugares as pessoas vê que você realmente chegou, e em instantes, vi que eu era uma outra pessoa, nem parecia que eu tinha ficado durante tempos naquele quarto com aquelas revistas, garrafas de bebidas, cigarros e com a agenda com a folha no chão que eu não sabia quem era a pessoa do nome riscado. Coloquei o meu melhor sapato, peguei a minha melhor bolsa e, nela eu coloquei os meus melhores cigarros, coloquei um batom para poder retocar a maquiagem para onde eu ousasse ir estivesse linda como saira de casa, coloquei dinheiro para um taxi e uma boa bebida, me olhei no espelho antes de sair e vi que estava diferente do que eu costumava ser antes das bebidas e durante as bebidas, eu estava parecendo uma puta, daquelas de bordeis nojentos e sujos, daquelas de bordeis baratos, bordeis de esquinas, mas eu gostei do que vi, até sorri ao olhar no espelho, tirei o pouquinho de batom que restava no dente e fui. Ao sair eu vi que chovia muito, peguei um guarda chuva para ir até o taxi, no caminho até lá, um cara dentro de um carro velho parou do meu lado, ele deveria achar que eu era uma puta, daquelas de bordeis velhos e sujos, mas eu não o culpava por pensar aquilo, eu parecia mesmo uma daquelas putas. Entrei no carro, queria ver o que aquela mulher que estava trancada dentro do quarto com a única companhia que era a bebida, o cigarro, a agenda com a folha riscada no chão, poderia fazer. No meio do caminho não falamos nada, acendi um cigarro e puxei um assunto:

- Você me convida para entrar no seu carro e nem ousa dizer o seu nome?

Ele riu, vi que tinha um bonito sorriso largo.

- Me chamo Marcos e você?

- Me chamo Teresa.

Vi que quando acabei de dizer o meu nome, chegamos a um daqueles bordéis sujos, nojentos e sujos e nojentos e sujos. Vi que eu realmente estava parecendo uma daqueles mulheres que tinha pensado ao me olhar no espelho. Ele pegou um quarto, parecia até que conhecia muito bem aquele lugar, deveria já ter ido lá com outras mulheres que pareciam também mulheres de bordéis sujos. Entrando no quarto ele me jogou em cima da cama agressivamente, me mandando tirar a roupa. Ele tirou as suas roupas com rapidez e até me ajudou a tirar os sapatos, porque estava demorando, tinha perdido o habito de colocar aquela fivela e de tirar também, estava em momento de adaptação ao sapato. Ele jogou as minhas roupas no chão e deitou sobre mim, quando deitara naquela cama conseguia sentir o cheiro do gozo da ultima transa, deveria ter vários gozos misturados, várias pessoas que conseguiram pensar em um orgasmo naquele lugar nojento e sujo. Ele veio por trás, e continuava me penetrando, continuava , continuava e continuava. Conseguia sentir o seu suor sujo, seu suor de porco velho e nojento em cima de mim, conseguia sentir os seus pelos grossos em cima da minha pele, e ele continuava me penetrando e me chamando de vadia, putinha, vagabunda, cachorra, e continuava. Quando ele terminou de se satisfazer, colocou as roupas e jogou o dinheiro sobre a cama, foi quando o vi indo embora por aquela porta, me vesti e peguntei a dona do lugar onde havia o primeiro ponto de táxi perto. Quando estava indo, vi uma rosa vermelha no caminho, disse que a rosa era eu, pois era vermelha, cor da paixão, cor do desejo e ilusão, ela era eu, eu era ela. Entrei no taxi e decidi que começaria a usar mais sombras azuis e que fumaria mais quando esses dias se repetisse, decidi que ia descobrir quem era a pessoa que eu riscara o nome na folha da agenda, jogada no chão.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Parabéns pra mim.


Eu poderia muito bem ter arregaçado as mangas e ter aberto todas as janelas daquele pequeno apartamento. Poderia ter me trocado e ter ido embora na primeira oportunidade que eu tive. Mas eu escolhi vestir a roupa mais confortável que eu tinha, liguei a televisão e esperei as dores passar.
Estava cansada, em dias nada bons, com uma tpm desgraçada e uma dor de cotovelo imensa. Estava - estou - cansada. Preciso de pensamentos positivos, esses pequenos pensamentos que podem até serem mandados mentalmente. Por andar sendo muito inconsequente como a chuva que caí lá fora, por andar sendo tão desgovernada como um carro prestes a bater em uma árvore.. É por isso que eu sofro. Eu abro as minhas cortinas cor de salmão todos os dias para ver se alguma coisa lá fora mudou além das estações, mas tudo é tão vago, tão monótono, tão parado, o tempo pra mim parou a partir do momento em que me vi completamente só. Preciso de algo que me mantenha em pé, preciso de uma corda que me segure no lugar, estou andando tão fora de mim por me sentir tão só, maria. E como uma sala de hospital onde as pessoas esperam para ouvir a má notícia, eu também espero. Estou como uma sala de estar vazia, bem vazia, sem nada para encher. Eu poderia muito bem ter desistido disso tudo e ter ido embora para longe daqui, onde nem o céu seja inalcançável, onde nada seja o limite. Mas eu não posso chorar, estou seca por dentro e por fora, não tem mais lágrimas para serem derramadas. Ninguém pode me ouvir, muito menos você. E com esse copo de vinho na mão, eu comemoro mais um aniversário. Parabéns pra mim, ou quem sabe... Um NÃO parabéns pra mim!