
Tinha a mesma rotina todos os dias. Arrumava a casa por inteira, colocava objetos nos seus devidos lugares depois de tirar o pó de um por um. Arrumava as cortinas de uma forma em que o sol não pudesse entrar, nem ao menos aparecer um pedaço da luz. Limpava o chão e deixava a louça no seu devido lugar, limpa como sempre, brilhando, tinindo. Era assim que tudo ficava, todos os dias da semana e até mesmo do ano. Passava a maior parte do meu dia arrumando a casa. As vezes acordava até no meio da noite para ver se tudo estava em ordem. Paranoia minha, quem iria bagunçar aquela casa? Se eu morava sozinha? Sempre quando arrumava a casa, tomava banho em seguida para tentar tirar o peso das minhas costas por me sentir suja. Arrumar a casa era uma forma de fingir que eu estava bem comigo mesma, eu poderia controlar onde os objetos ficariam quando eu queria, poderia mudá-los de lugar, poderia não deixar o sol entrar na minha casa, poderia limpar todos os degraus daquela enorme casa, poderia deixar tudo no seu devido lugar. Mas eu não poderia deixar a minha vida em ordem, não podia controlar os meus sentimentos e muito menos os meus pensamentos, não podia controlar o choro. As vezes, segurando ainda a vassoura eu colocava uma das minhas mãos no meu rosto e chorava por horas, logo em seguida eu me arrumava e ia arrumar a casa de novo. Minha vida era trágica, suja. Diferente daquela enorme casa branca.
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