quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Duas.


Nada nunca esteve tão perdido que eu fosse obrigada a olhar embaixo da cama, nas gavetas, em cima do guarda-roupa, dentro dos sapatos e até mesmo na garrafa de whisky. Nunca fui obrigada a procurar o sol nos dias mais quentes do ano, como estou sendo agora, o frio na época do inverno, as flores da primavera e também, a chuva quando se esta praticamente caindo o mundo. Estava procurando apenas uma coisa que eu realmente não consigo encontrar e até agora, não achei. Tantas coisas no decorrer da minha vida aconteceram, tantas procuras inúteis, tantos desejos insaciáveis que não foram curados, tanta dor passada, tantas coisas perdidas que não foram encontradas. Devo não ter procurado direito, devo não ter olhado direito nos pequenos cantos da casa, devo não ter olhado debaixo do banco do carro, dentro da bolsa, nos bolsos das calças, dentro das gavetas do banheiro... Devo ter escondido bem, pensei comigo mesma. Procurei até dentro da casinha do cachorro e não encontrei, mas quando olhei mais afundo, quando fui procurar na cozinha, encontrei dentro da gaveta da pia perto das minhas melhores facas, a carta estava junto da bolsinha dourada, o meu porta cigarros, a carta estava amarela, muito amarela... Para estar daquele jeito, devo não ter aberto aquela gaveta a um bom tempo, a tanto tempo que nem me consigo me lembrar da ultima vez que coloquei um avental, peguei minhas melhores facas e fiz a minha melhor receita, strogonoff. Ela adorava. Adorava quando eu cozinha aos dias de domingo, dizia que eu ficava linda de avental e na cozinha. Sempre achei cozinhar um tanto instigante, prazeroso na comida e também, nos desejos, sempre achei que uma cozinha e uma boa receita instiga qualquer um... E com ela era bem assim. Fui procurar essa carta porque ontem a noite eu tive um sonho, sonhei que ela me queria tanto quanto eu a queria. Dormíamos bem juntas, nuas, mas sem malícia nenhuma naquele momento, pelo contrário, a doçura estava estampada nos nossos olhos que naquele momento, estavam fechados. E eu sonhava com ela, mesmo ela estando ao meu lado. Não sei se foi impressão minha mas teve uma hora que eu a senti se mexer, e nossas bocas ficaram ainda mais próximas, nossos olhos fechados se encaravam e nossos corpos estavam um pouco mais grudados, quando senti que realmente tinha acontecido, fiquei o mais imóvel possível para não sair daquela posição. Embrulhei ela naquele sonho, peguei-a pela cintura e a trouxe para mais perto do meu corpo, ela abriu os olhos e sorriu, olhei pra ela e comecei a gargalhar... E ríamos juntas sem parar. Eu queria muito aquele momento, como ela queria. Peguei nos seus enormes cabelos longos e lisos e a puxei contra minha boca e a beijei, e felizmente ela correspondeu. Depois disso, ela pegou pela minha mão e disse o quando estava feliz por estar ali, o quanto queria estar ali, eu sorri sem graça. Mas logo em seguida abri um sorriso enorme quando ela veio se aproximando novamente para uma nova tentativa de beijo. No meu sonho nós duas ficamos assim, entre abraços, beijos, mãos e mais beijos. O que importava ali era que ela me queria o tanto que eu a queria. E era exatamente isso que importava.

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