segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Nada a dizer, dizendo tudo.


Alguém ja te contou a história de que o mal deve ser cortado pela raiz?
A verdade é que não basta fazer apenas isso, já que foi picado pela cobra que se alojava debaixo da árvore de maus frutos, já que foi picado desprevenido no momento em que pensava em como poderia ter chegado ali. A unica coisa a se fazer quando algo desse tipo acontece, é sugar todo o veneno com a própria boca para que finalmente o seu sangue fique puro mais uma vez, para que o veneno não tenha invadido todo o seu corpo. Nada pode ser mais doloroso do que ser picado por alguém que durante um determinado tempo, soube todas as suas fraquezas e medos. Nada mais justo do que comparar quem te apunhalou com um gesto traiçoeiro e rasteiro, como de uma cobra, como eu ando fazendo quando penso as vezes, quando venho pensando no ônibus, no quarto, na cozinha ou até mesmo na sala. Mas nesse exato momento o que se resta a fazer é derramar todo o sangue para que a ferida sare, para que se cure, para que suma e a pele volte a ser limpa, como se nada tivesse um dia tocado. O sol que nesse exato momento entra pela minha janela queima ainda mais essa ferida não cicatrizada, mas o que é um pouco de dor para quem esta todo ferido? A cada dia que passa me olhar no espelho e me ver refletida se torna cada vez mais confuso. Não sei se eu vejo uma cobra, um coelho dócil ou uma simples formiga frágil. A unica certeza que eu tenho quando me olho no espelho é que os meus olhos continuam cansados, e que mais uma vez, não dormirei bem. E que no dia seguinte eu verei a mesma coisa refletida no espelho: os mesmos olhos, a mesma boca, e o mesmo cabelo bagunçado. Mas saiba que a cada picada de cobra, a cada dia de sol entrando pela janela, a cada dia de formiga ou até mesmo de coelho, no dia seguinte verei mais uma vez os mesmos olhos cansados e o mesmo cabelo bagunçado e continuarei tentando dizer, tentando contar essa mesma história. E a cada dia que passa, menos sinto e menos falo. A cada dia que passa, peço mais silêncio na avenida dos que nunca falam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário